terça-feira, 28 de outubro de 2014

As Estátuas Agradecidas



As Estátuas Agradecidas


“Há muito tempo, um casal de idosos muito gentil vivia em um vilarejo no Japão. O marido e a esposa eram muito pobres e passavam o dia inteiro fazendo chapéus de palha. Sempre que terminava uma série de chapéus, o velhinho os levava ao vilarejo mais próximo para tentar vendê-los.

Um dia, o velhinho disse à sua esposa:

- Em dois dias será Ano Novo. Como eu gostaria de ter alguns bolinhos de arroz para comer nesse dia! Mesmo um ou dois pequenos bolos seriam suficientes. Sem bolinhos de arroz nós não teremos como celebrar o Ano Novo.

-Muito bem- respondeu a velhinha.Após você vender esses chapéus que estamos fazendo, compre alguns bolinhos de arroz para o Ano Novo.

De manhã bem cedo o velhinho pegou os cincos chapéus novos que tinha feito e foi a cidade vendê-los. Porém, ao chegar lá, não conseguiu vender um único chapéu. E, para piorar as coisas, começou a nevar muito.

O velhinho se sentiu muito triste enquanto caminhava por uma trilha solitária montanha abaixo, quando de repente passou em frente a uma fila de seis estátuas de Jizo, protetor das crianças, todas cobertas por uma grande camada de neve.

-Puxa! É realmente uma pena- disse o velhinho. - Sei que são apenas estátuas, mas ficar aqui parado em meio a essa neve deve ser muito frio.

E disse para si mesmo:

-Já sei o que farei.

 Ele desatou os cincos chapéus novos de suas costas e começou a prendê-los, um a um, na cabeça das estátuas.

Quando o velhinho foi cobrir a última estátua, de repente se deu conta que todos os demais chapéus estavam sobre as estátuas.

-Que pena! - disse ele. - Eu não tenho chapéus suficientes para cobrir todas elas.

Mas, nesse momento, o velhinho lembrou-se de seu próprio xale. Assim, ele o retirou de sua cabeça, enrolou-o na cabeça da última estátua e voltou para casa.

Ao chegar em casa, a velhinha esperava o marido sentada perto da lareira. Ela olhou para ele e exclamou:

-Você deve estar quase morto de frio! O que fez com o seu xale?

O velhinho retirou a neve de seu cabelo e se aproximou do fogo. Ele contou à esposa como tinha dado todos os chapéus novos e seupróprio xale para as seis estátuas de Jizo. Ele também disse que sentia muito por não ter conseguindo trazer para casa nenhum bolinho de arroz.

-Foi muita generosidade o que fez pelas estátuas- afirmou a velhinha.

Ela estava muito orgulhosa do marido e falou:

-É melhor fazer uma bondade assim do que ter todos os bolinhos de arroz do mundo. Nós ficaremos bem mesmo sem nenhum bolinho no dia de Ano Novo.

Era tarde da noite e o casal de velhinhos logo foi para a cama.

Pouco antes de alvorecer, enquanto estavam dormindo, uma coisa maravilhosa aconteceu.

Ao longe ouviram uma canção:

-Um velhinho gentil caminhando na neve deu seus chapéus às estátuas de Jizo,assim retribuiremos com alegria!

As vozes se aproximaram mais e mais, até que pesados passos podiam ser ouvidos na neve.

Os passos se dirigiam a casa onde o velhinho e sua esposa estavam dormindo. De repente, ouviu-se um barulho, como se algo tivesse sido colocado bem na frente da sua casa.

O casal de velhinhos saltou da cama e correu até a porta.

Ao abri-la, o que acham que encontraram?

Colocado muito ordenadamente em frente a casa, estava o maior e mais bonito bolinho de arroz que os velhinhos jamais viram.

-Quem pode ter nos trazido um presente tão maravilhoso?- perguntaram, enquanto olhavam ao redor.

Na neve, eles viram algumas pegadas, que se enfileiravam para longe de casa. A neve estava tingida com as cores do alvorecer.

Ao longe, caminhando sobre o vale branco, podia se ver as seis estátuas de Jizo, ainda com os chapéus que o velhinho tinha lhes dado. O velhinho mal se conteve de tanta alegria e disse:

-Foi o Jizo de pedra que trouxe este bolo de arroz maravilhoso para nós! – falou o velhinho.

A velhinha então respondeu:

-Você foi muito generoso ao dar-lhes seus chapéus. Assim, eles nos trouxeram este bolinho de arroz para demonstrar a sua gratidão.

E o casal de velhinhos teve uma celebração de Ano Novo magnífica, porque tinha um delicioso bolinho de arroz para partilhar.”  

Obs.: Livro de consulta: As Histórias Preferidas das Crianças Japonesas, livro 01,2005, pag. 94, Editora JBC.

Análise do texto:

Esta história simples e singela, apenas nos ensina que, apesar da não realização dos desejos terrenos, devemos nos manter sempre gentis e generosos com o próximo e com todas as coisas a nossa volta.

Se tecermos fios puros e luminosos, outros auxiliadores estarão trabalhando durante o nosso sono ou durante nossa vida terrena, e quando nós acordarmos um dia lá do outro lado, ricos presentes já estarão nos aguardando.

O grande bolinho de arroz, conforme a história é contada, não poderia ocorrer na vida terrena de matéria grosseira, e assim, mostra o simbolismo lá no mundo mais fino.


Uma bela história, para que cada um de nós possa repensar o nosso proceder do dia a dia.




     Escrito por: Yoshio Nouchi

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