quarta-feira, 12 de novembro de 2014

As Lágrimas do Dragão


             

           As Lágrimas do Dragão






“Em um lugar muito longe, em um país estranho, vivia um dragão. Sua casa ficava em uma caverna funda, encravada na montanha, de onde seus olhos brilhavam como faróis. Quando algumas pessoas que viviam nas proximidades estavam reunidas à noite ao redor do fogo, alguém costumava falar:

- Que dragão terrível vive perto de nós!

E outra pessoa concordava, dizendo:

- Alguém precisa matá-lo!

Sempre que as crianças ouviam sobre o dragão ficavam apavoradas. Mas havia um garotinho que nunca se amedrontava com essas histórias. Todos os vizinhos diziam:

- Que garotinho engraçado!

Quando se aproximou o aniversário dele, sua mãe lhe perguntou:

- Quem você gostaria de convidar para o seu aniversário?

E o garotinho disse:

- Mãe, eu gostaria de chamar o dragão!

- Você está brincando?- disse sua mãe surpresa.

Ele respondeu muito decidido:

 - Não, estou falando sério: quero convidar o dragão.

Assim, no dia anterior ao seu aniversário o garotinho saiu furtivamente da casa. Ele caminhou, caminhou e caminhou até alcançar a montanha onde vivia o dragão.

- Olá, Senhor Dragão! – o garoto chamou do vale, gritando o mais alto que pôde.

- Qual é o problema? Quem está me chamando? – rugiu o dragão, saindo de sua caverna.

O garotinho disse:

- Amanhã é meu aniversário, e haverá um monte de coisas boas para comer. Por favor, venha à minha festa. Eu percorri todo esse caminho até aqui para lhe convidar.

Primeiro, o dragão não pôde acreditar no que ouvia, e continuou rugindo para o garoto. Mas o menino não estava assustado, e continuou dizendo:

- Por favor, Senhor Dragão, por favor, venha à minha festa!

Finalmente, o dragão entendeu que o garoto estava sendo sincero e realmente queria que ele, um dragão, fosse à sua festa de aniversário. Então, o dragão parou de rugir e começou a chorar.

- Que coisa boa me aconteceu! – gemeu o dragão. – Eu nunca tinha recebido um convite de ninguém antes.

As lágrimas do dragão escorreram e escorreram, até que finalmente formaram um rio. Então, ele disse:

 – Venha, suba em minhas costas, e eu lhe darei uma carona de volta para casa.

O garoto subiu bravamente nas costas do dragão feroz, que seguiu adiante nadando correnteza abaixo do rio formado por suas próprias lágrimas. Mas, à medida em que seguia, seu corpo mudou de forma e tamanho em um passe de mágica. E de repente – quem pode explicar! – o garotinho estava navegando bravamente rio abaixo em direção à sua casa como capitão de um barco-dragão a vapor!”  

OBS.: Livro de Consulta: As Histórias Preferidas das Crianças Japonesas, Livro 02, 2005, pág. 13, Editora JBC.    

Análise do texto:

Esta história, como tantas outras que foram transmitidas para vários povos e para a humanidade, vem nos alertando há algumas centenas de anos para que mantenhamos a espécie do nosso espírito puro e infantil. 
Ela adverte para o perigo de aceitar de uma forma irrefletida, dogmas e ensinamentos rígidos e pré-concebidos, diferentemente quando se procura seguir a voz interior.
Tudo o que é inflexível é como um galho seco, diferente de um galho verde que é flexível; assim é a infantilidade, que contribuiu para romper com o tradicional que imperava no seu meio.
O menino aniversariante simplesmente seguiu a sua intuição, e quando chegou àquela data especial, deixou para trás o seu corpo de matéria grosseira, e a sua alma pura, sendo reconduzido por servos do Altíssimo pelos rios da vida, de volta para casa, à terra natal. Uma história que ficou para a posteridade, que nos conta de uma forma figurada como deve ser o verdadeiro ser humano, uma criança, um eterno aprendiz neste grande lar da Criação.


        


                                                             Escrito Por: Yoshio Nouch
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