O Vendedor de Sandálias
“Há muito, muito tempo, em certo lugar, viviam um velhinho e sua esposa. Eles eram honestos, mas extremamente pobres. Um dia, perto do fim do ano, os dois escutaram algumas crianças cantando do lado de fora da casa.
A canção que as crianças cantavam era assim:
“Oh, Senhor Ano Novo, onde está você?
Estou bem atrás das montanhas de neve.
Oh, não se esqueça de nos trazer doces e lembranças.
Sim, darei bolinhos mochi redondos para as crianças”.
Ouvir as crianças cantando sobre o Ano Novo fez com que o velhinho e sua esposa se sentissem muito tristes e sozinhos. Isso porque este ano eles não tinham dinheiro e não podiam celebrar o Ano Novo.
- Oh, querido – a esposa idosa suspirou. - O Ano Novo é depois de amanhã e nós não temos nenhum arroz. Assim, não podemos fazer bolinhos mochi. Não teremos nenhum mochi para comer no dia de Ano Novo, e Ano Novo sem mochi não é Ano Novo.
O velhinho se sentou triste ao seu lado, balançando a cabeça. Mas, de repente, teve uma ideia.
- Eu sei o que farei. Levarei as sandálias de palha para o povoado e as venderei em um instante. Com o dinheiro poderemos comprar algum arroz e fazer bolinhos mochi.
O velhinho foi ao povoado, carregando as sandálias de palha em uma longa vara apoiada sobre as costas. Era um dia muito, muito frio, com vento forte e repleto de neve.
Ao chegar ao povoado, começou a caminhar pelas ruas gritando:
- Sandálias de palha! Sandálias de palha!
Mas todos estavam muito ocupados e ninguém queria comprar sandálias de palha. Ele prosseguiu caminhando, caminhando e gritando:
- Sandálias de palha! Sandálias de palha!
Porém, não conseguiu vender um único par.
Logo depois, outro homem idoso veio pela rua vendendo carvão vegetal.
Ele gritava: - Carvão! Carvão!
Os dois velhinhos se encontraram na rua e começaram a conversar.
- Como vão os negócios? – perguntou o vendedor de carvão.
- Terríveis! – respondeu o vendedor de sandálias. – Eu ainda não vendi um único par. Todos estão ocupados demais se preparando para o Ano Novo.
- Eu também não consegui vender nenhum carvão – disse o outro. – Venha, vamos caminhar juntos para ver se temos maior sorte.
Assim, eles se puseram a andar juntos.
- Sandálias de palha! Sandálias de palha! – gritava um.
- Carvão! Carvão! – gritava o outro.
Mesmo assim, eles não conseguiram vender nenhuma mercadoria. O tempo foi passando, passando, e suas vozes foram ficando mais e mais fracas. Também estavam com muito frio, e nevava ainda mais. Finalmente, escureceu por completo, e eles não tinham feito uma única venda. Desse modo, decidiram parar e voltar para casa.
Então, o vendedor de carvão disse:
- É realmente muito ruim levar para casa as mesmas coisas que trouxemos. Por que não trocamos? Assim, você poderá levar meu carvão para casa e eu levarei suas sandálias de palha.
- Essa é uma boa ideia – concordou o vendedor de sandálias. Assim, eles trocaram de mercadoria e foram embora.
Quando o vendedor de sandálias chegou em casa, sentia muito frio. Ele contou à velha esposa as más notícias: não conseguira ganhar um único centavo.
- Mas pelo menos eu trouxe esse carvão – ele disse à mulher. – E nós podemos nos aquecer.
Assim, acenderam a lareira com o carvão e sentaram-se em volta para se aquecer. Porém, caíram no sono, e não notaram a presença de um minúsculo ogro, que pulou sobre o fogo e se escondeu em seu armário para observá-los. O ogro tinha apenas uma polegada de altura, mas se parecia com o vendedor de carvão que o velhinho encontrara naquele dia.
Após o velhinho e sua esposa irem para a cama, o ogro saiu de seu esconderijo e disse: - Hoje, eu senti pena desse pobre velhinho e lhe dei esse carvão mágico. Toda fagulha que cair de seu fogo se transformará em um pedaço de ouro. Depois, o ogro desapareceu.
Desse modo, quando o velhinho e sua esposa acordaram na manhã seguinte, encontraram uma grande pilha de ouro perto da lareira. Eles ficaram muito surpresos e também muito felizes. Assim, puderam comprar todo o arroz que quiseram, e fizeram mochis deliciosos no Ano Novo. E o velhinho nunca mais teve de sair na neve para vender sandálias de palha.”
Obs.: Livro de consulta: As História Preferidas das Crianças Japonesas, Livro 02, 2005, pg. 58, Editora JBC.
Análise do texto:Apesar da não realização dos desejos terrenos, se mantivermos boa vontade,pureza nos pensamentos e no coração, os auxiliadores estarão coletando estas boas sementes e plantando lá num outro mundo mais fino, demonstrando que nós não devemos separar as nossas vidas do Aquém e do Além, sendo apenas uma coisa única, que outros auxiliadores estarão tecendo fios do destino favoráveis ou desfavoráveis, conforme o nosso proceder.
Segue um ditado que se enquadra nesta história:
“Muitas vezes, a não realização dos desejos terrenos é o melhor auxílio”.
Escrito por Yoshio Nouchi

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